sábado, 1 de novembro de 2014

AS DIFERENTES FACES DA CICATRIZ.

CICATRIZES: DR., EU TENHO QUELÓIDE?


Hoje resolvi falar sobre um tema muito importante em Cirurgia Plástica que são as Cicatrizes.
Percebo que existe muita confusão na hora de descrever uma cicatriz. Muitos pacientes falam, " Dr., eu tenho quelóide", e quando examino vejo que aquela cicatriz não é um quelóide!
Essa confusão não é feita somente por pacientes, muitos médicos não sabem diferenciar os tipos de cicatrizes.
Primeiramente devemos deixar claro que o processo cicatricial é muito variável de paciente para paciente e que cada parte do corpo evolui de maneira diferente.
Áreas como ombro, região central do tórax e lóbulo de orelha tem uma tendência maior a alterações cicatriciais.





ALTERAÇÃO CICATRICIAL EM  REGIÃO CENTRAL DO TÓRAX PÓS CIRURGIA CARDÍACA.

A alteração cicatricial pode ser de vários tipos. As mais comuns são os quelóides, cicatrizes hipertróficas, cicatrizes alargadas, cicatrizes retraídas e cicatrizes discrômicas. Vamos abaixo falar um pouco sobre cada uma delas.


1.QUELÓIDE:  é uma cicatriz espessa, elevada e de superfície lisa. É uma cicatriz na qual ocorre  um aumento na deposição de colágeno, por isso fica alta e grossa. A característica primordial do quelóide é que ele ultrapassa os limites da incisão inicial, ou seja,  invade a pele ao redor da cicatriz cirúrgica. E porque isso ocorre? Ocorre principalmente por fatores genéticos e individuais de cada paciente. Abaixo exemplos de quelóide.





                            Quelóide em curo cabeludo pós foliculite 




 Quelóides em região cervical ( pescoço) após queimadura





                             Quelóide em tórax após cirurgia torácica.



O quelóide é normalmente uma cicatriz que apresenta muita coceira e pode ter dor no local. É uma cicatriz muito difícil de ser tratada pelo alto índice de recidiva. Existem alguns tratamentos como infiltração da cicatriz queloideana com corticóide ( triancinolona) que amenizam o quelóide e melhoram a dor e a coceira. O melhor tratamento ainda é a ressecção cirúrgica + betaterapia ( uma radioterapia superficial no local), porém ainda com chances de recidiva de 30%.



2. CICATRIZ HIPERTRÓFICA: É uma cicatriz elevada decorrente de uma resposta exagerada da pele a uma intervenção cirúrgica ou ferimento, cicatriz essa que não ultrapassa os limites ou a extensão da incisão ou ferimento inicial. Apresenta tendência à regressão; distingue-se, assim, do quelóide, que geralmente estende-se espacialmente em relação ao tamanho original da incisão cirúrgica ou ferimento. Entretanto, é usualmente confundida com o quelóide; por isso, a cicatriz hipertrófica é também conhecida como “pseudoquelóide” (figuras 1 e 2). A freqüência de cicatriz hipertrófica é, provavelmente, maior que de quelóide, mas ainda não há estudos estatísticos específicos.





A foto acima mostra duas alterações cicatriciais após a cesárea. A figura  1 mostra uma cicatriz hipertrófica e a figura 2 um quelóide. Note que a primeira respeita os limites da incisão e a segunda ultrapassa os limites.


Só para lembrar que a cicatriz hipertrófica tem tendência a regressão espontânea, o quelóide não! A cicatriz hipertrófica apresenta melhora significativa também com a infiltração com corticóide, LASER e placas de silicone.



3. CICATRIZ ALARGADA: É uma cicatriz que sofre processo de alargamento devido à tensão no local da cicatriz. Isso pode acontecer em pacientes obesos, áreas de articulação como joelhos e cotovelos  onde a cicatriz sofre uma forte tensão!
É uma das cicatrizes mais comuns. Se pararmos para pensar, toda cirurgia plástica ( abdominoplastia, mamoplastia redutora, prótese de mama, lifting facial) apresenta tensão na cicatriz pelo fato da pele ser esticada ao máximo no local operado. Então o alargamento de cicatriz é a alteração cicatricial mais comum em cirurgias plásticas e não o quelóide como a maioria dos pacientes temem. 





            Cicatrizes alargadas pós cirurgias abdominais ( redução de estômago)

O único tratamento para esse tipo de cicatriz e a ressecção cirúrgica, porém se o fator causal do alargamento ( tensão) não for retirado, ela alargará novamente!




4. CICATRIZ RETRAÍDA: São cicatrizes que apresentam-se afundadas, por aderência aos planos mais profundos ( muscular). Na maioria das vezes estão relacionadas a processo infeccioso no local que favorecem essas aderências como após cirurgias de apêndice, vesícula, cirurgias ortopédicas.




     Cicatrizes retraídas após apendicectomia na figura 1 e após cesariana na figura 2

O tratamento para cicatrizes retraídas é a ressecção cirúrgica, liberação das aderências para refazer a cicatriz. 



5. CICATRIZ DISCRÔMICA: Cicatrizes com cor diferente da tonalidade da pele. Podem ser hipercrômicas (quando escuras) ou hipocrômicas (quando mais claras). É importante que não sejam confundidas com fases precoces da cicatrização, onde geralmente as cicatrizes se apresentam mais escuras que a pele (até 1 ano e meio).


                                            Exemplo de cicatrizes hipercrômicas.

Podem ser tratadas com LASER, cremes à base de ácidos e clareadores.



O melhor tratamento para as alterações cicatriciais é a prevenção e o tratamento precoce. Se você tem alguma dúvida sobre sua cicatriz, procure um cirurgião plástico ou dermatologista para maiores informações. O fator individual/genético de cada paciente é o principal na formação dessas cicatrizes. 
Espero ter esclarecido algumas dúvidas sobre cicatriz.
Um abraço
Dr Marcello















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